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"Aracaju Pra Cantar": registro de momentos raros da música sergipana

Atualizado: 30 de jan.

Aracaju Pra Cantar LP Vinil

Após um processo de intervenção que afastou o prefeito eleito Jackson Barreto do comando da capital, assumiu o mandato o vice Viana de Assis, em 1988.


Entre as ligeiras realizações do curto mandato, o novo gestor encarregou a Secretaria Municipal de Cultura de produzir um disco com canções sobre a cidade.


Do gabinete do prefeito veio a indicação de clássicos que deveriam estar no vinil: “Aracaju uma estrela”, de Antonio Garcia Filho; “Sergipano bom”, de José Carlos Mendonça, o popular Pinga; “Atalaia”, de Antônio Vilela; e “Retratos de Aracaju”, de Hugo Costa.


Iniciaram-se em seguida consultas e conversas para completar o repertório. Aos poucos, a lista foi avançando no tempo e incorporando novas gerações de compositores e intérpretes.


Nesse movimento, foi garantida a presença de alguns nomes que haviam despontado na virada entre as décadas de 1970 e 1980: Alcides Melo, Tonho Baixinho, Adelson Alves, Irineu Fontes, Jorge Lins.


O passo seguinte alcançou nomes mais novos: Rubens Lisboa e Rivando Goes, revelados em festivais de música ocorridos após 1984. Também a cantora Amorosa, revelação da noite musical aracajuana na época.


Eu trabalhava na Secretaria de Cultura em uma pesquisa sobre a expressão musical em Aracaju no século XIX, tinha participação na cena musical e atuava no jornalismo, com foco em cultura e arte.


Acredito que por força dessa minha variada inserção no contexto artístico, fui convidado a opinar sobre quem mais deveria participar do disco.


Não tive dúvida: elaborei uma lista com nomes que eu percebia como menosprezados no meio artístico, pelos mais diversos motivos.


Uma das minhas sugestões serviu como bode expiatório. Quando, em reunião, foi lida a indicação que fiz da Banda Karne Krua para gravar o rock “Buracaju”, a reprovação foi imediata e geral.


Acredito que aquela indicação evitou outros cortes. Uma vez que me convidaram para opinar, avalio que se tornou constrangedor cortar toda a lista que elaborei.


Tenho consciência de que minha argumentação foi decisiva para a inclusão de três canções, interpretadas por seus compositores: “Aracaju, o lugar”, Cícero Farias; “Aracaju, tudo bem”, Jimmy; e “Coisas de Aracaju”, Beto Cego.


Uma vez definido o grupo, havia gente demais. Isso, porém, gerou misturas bem interessantes: Rivando Goes interpretou “Sergipano bom”, de Pinga; e Tonho Baixinho cantou “Aracaju, uma estrela”, de Antonio Garcia Filho.


A bela canção “Atalaia”, de Antônio Vilela, recebeu interpretação coletiva. Há nessa faixa um registro incomum: o canto de notas muito graves pela cantora Amorosa. Ela precisou se adaptar a uma tonalidade confortável para a maioria.


Todo aquele esforço resultou em momentos raros para a música sergipana. Salvo engano, as participações de Cícero Farias, Jimmy e Beto Cego, são os únicos registros fonográficos desses três artistas.


O álbum tem ainda outra curiosidade e não lembro o motivo. A canção de Alcides Melo, “Mercado Thales Ferraz”, foi cantada por Robson Ricardo. Se não me engano, um cantor pernambucano.


Quem acompanha a música sergipana e está rondando os 60, certamente guarda alguma lembrança de Aracaju Pra Cantar. E a galera mais nova? Com menos de 50, só um ou outro gato pingado deve ter ouvido o LP.


Esse lançamento produzido pela Prefeitura de Aracaju está beirando os 40 anos. Aproveitando a nova onda “cult” do vinil, não seria o momento de pensar em uma reedição?


De qualquer modo, tenho uma boa notícia. Procurei no YouTube e encontrei várias faixas do LP por lá, quem quiser conferir é só pesquisar: Aracaju Pra Cantar.


Lanço um desafio também para novos artistas. Por que não, de vez em quando, gravar coisas antigas? Criações de compositores locais?


Esse tipo de conexão é muito raro por aqui. Melhor seria se raros fossem apenas os registros encontrados na coletânea Aracaju Pra Cantar.


Aracaju Pra Cantar Vinil Encarte
Encarte do LP. Na frente, as letras das canções e algumas informações sobre instrumentos utilizados na gravação fonográfica. No verso, fotos de momentos da gestão de Viana de Assis na Prefeitura de Aracaju.

No álbum Aracaju Pra Cantar, a foto da capa é assinada por Marcel Nauer e as criações gráficas são obra do artista Alcosa.


ARACAJU Pra Cantar / LP em Vinil


LADO “ARA”


CANÇÃO DA CIDADE (Irineu Fontes e Jorge Lins), por Irineu Fontes

TOMEI DE CARA (Rubens Lisboa), por Amorosa

ARACAJU, O LUGAR (Cícero Farias), por Cícero Farias

ARACAJU, TUDO BEM (Jimmy), por Jimmy

ARACAJU, UMA ESTRELA (Antonio Garcia Filho), por Tonho Baixinho

SERGIPANO BOM (Carlos Mendonça – Pinga), por Rivando Goes


LADO “CAJU”


ATALAIA (Antonio Vilela), interpretação coletiva

MERCADO THALES FERRAZ (Alcides Melo), por Robson Ricardo

COISAS DE ARACAJU (Beto Cego), por Beto Cego

ARACAJU (Adelson Alves), por Adelson Alves

RETRATOS DE ARACAJU (Hugo Costa), por Lina Sousa

ARACAJU PRA VALER (Jingle – Instrumental)

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