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A infância cá em Sergipe, antes das nectarinas!

Atualizado: 6 de mar.

Nectarinas em Ribeirópolis

Sempre que o Natal se aproxima ou quando deito na rede da varanda para namorar a lua cheia, lembro dessa história…


Parece que aqueles jogos eram elaborados sob encomenda para nos “civilizar”, ou, quem sabe, aquilo foi um passo para dar nisso: um desvairado mercado global. Não sei de onde vinham aquelas brincadeiras.


Fato é que chegavam a lugares muito remotos, tais como as calçadas da pequena Ribeirópolis, lá pelos anos 1970, onde a criançada fazia folia no começo das noites.


Um dos desafios começava com a escolha de um assunto: país, cidade, fruta ou cor? A lista era maior. Porém, lembro somente, com precisão, da terminação “fruta ou cor”.


Era então sorteada uma letra do alfabeto e os brincantes tinham que falar, sucessivamente, nomes de elementos do tema escolhido, começados com aquela letra.


Quando o assunto era fruta e a letra o N, estávamos num deserto. Não havia nenhuma fruta com essa letra.


Um espertinho chutava “nelila” e uma discussão começava até se chegar à concordância geral de que fora um nome inventado, no calor da necessidade.


Vaneide, que era mais adiantada na escola, pronunciava meio embolado “naçã”. Às vezes colava, outras não.


Certa vez, Jorjão gritou “ninho”! E argumentou se tratar de uma fruta ralada e vendida em lata… o desdobro terminou em mangação.


E aquele sufoco permaneceu por infinitas noites, até que apareceu alguém e peitou a nossa esfinge ao nos convencer de que havia uma fruta chamada nectarina…


Ninguém em toda a região agreste, quiçá em todo interior sergipano, jamais tinha ouvido antes aquela palavra: nectarina!


Foi uma menina paulista, de férias na casa da avó. Com desdém, como se fosse a coisa mais comum do mundo, ela falou das nectarinas, certamente só desconhecidas por pessoas muito ignorantes, como nós.


A autoridade metropolitana prevaleceu e a nectarina passou a salvar a pátria quando precisávamos de uma fruta com N, embora o suposto pomo tenha continuado uma abstração.


No Natal passado, uma generosa amiga me presenteou com uma cesta de frutas: maçãs, peras, figos, kiwis, uvas e… duas ou três frutinhas de casca avermelhada com rajadas amarelas.


Pois não é que a internet me disse que são nectarinas? Agora eu acredito que elas existem, embora continue sem a menor ideia de onde vêm.


Naquele tempo, frutas que a gente pegava, chupava ou comia eram carambola, manga, pitomba, banana, mamão, jaca, pinha, goiaba, melancia e por aí vai… Também uvas e maçãs que apareciam, quando alguém as trazia de Aracaju.



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