O milionário corte de cabelo e a piada do papa
- Luiz Eduardo Oliva

- há 23 horas
- 3 min de leitura

Vilobaldo fez fama de bom barbeiro. Nos anos 80, cabelereiro era mais para os salões femininos. Um concorrente enciumado pelo sucesso de Vilobaldo cuidou de espalhar uma piada que fazia rir mais pelo personagem à quem se dirigia. Foi da época das vindas de João Paulo II ao Brasil que falava o português com o sotaque polonês e o ritmo portunhol. Se havia um cabelo mal cortado logo a piada chegava à roda.
Conta-se que um carola sergipano excessivamente devoto foi à Roma e ir à Roma e não ver o papa era como se não tivesse ido. O carola enfileirou-se nos primeiros lugares na Basílica de São Pedro no dia da missa celebrada pelo papa às quartas-feiras. João Paulo II passou em cortejo e de repente deu meia volta, caminhou em direção ao congregado mariano sergipano que abriu um imenso sorriso, afinal ia receber de perto a divina benção do santo padre. Para surpresa com o sotaque portunhol o pontífice polonês para diante dele dizendo: “Você só pode ser de Aracaju!" “Está me reconhecendo santidade?” – respondeu o feliz romeiro “Esse seu cabelo... cabelo assim mau cortado só pode ter sido em Vilobaldo!” A piada repetia-se sempre que alguém chegava a uma roda com novo corte de cabelo.
Corte de cabelo leva algumas pessoas à fidelidade ao barbeiro ou ao cabelereiro. Silvio Santos tornou o cabelereiro Jassa famoso (José Jacenildo dos Santos). Só cortava com ele que também se transformou num de seus melhores amigos. Pois que tenho dois amigos que são ao estilo Silvio Santos, só cortam com o mesmo cabelereiro. O problema é que os cabelereiros moram em cidades distantes. Um, Dulcindo, hoje ex-bancário, morou por anos em Aracaju e depois voltou à sua terra, Ribeira do Pombal. Nunca mais o avistei. Outro dia me deparei com ele, no Shopping. Cumprimentos alegres e a pergunta: “Onde andas”? “Me aposentei – respondeu – “Voltei à Ribeira do Pombal mas venho uma vez a cada dois meses para cortar cabelo em Aracaju. Só confio no mesmo barbeiro, há mais de 30 anos! ” Eu olhei, olhei, não vi nada de extraordinário e pensei: “antes tivesse cortado com Vilobaldo”.

O outro é o querido Nestor Amazonas, jornalista de quatro costados, culto, cheio de manias como uma famosa e já esquecida canção de Flávio e Celso Cavalcanti (“Mania é coisa que a gente/tem, mas não sabe porquê..." ). Nestor tem mania de se aborrecer sem ter razão, de frequentar em dias alternados mesmos restaurantes e depois acaba sugerindo pratos “ao Nestore” e o “restaurateur” para não perder a boa freguesia não é que coloca?
Pois que fiquei sabendo de outra mania de Nestor, essa milionária: cortar cabelo no mesmo cabelereiro em São Paulo. Outro dia desses me ligou e eu já acostumado ao convite para o almoço fui logo dizendo: “Onde vamos almoçar hoje? ” “Estou em São Paulo”, me disse. “Vim cortar cabelo com Minelli, com quem corto há mais de 30 anos. Cabelereiro italiano, radicado no Brasil, mas com experiência internacional”. “Como assim? ” – perguntei. “Não confio em nenhum outro, vai que rata.”
Fiquei a imaginar, cada um com sua mania. Pois que ir a São Paulo a cada dois meses para cortar cabelo, melhor seria montar um salão em Aracaju. E, no fim das contas, pensei... e se ele for ao Vaticano? O papa vai reconhecer que foi do italiano Minelli ou vai dizer: “Cabelinho mau cortado assim só pode ter sido em Vilobaldo” ? Brincadeiras à parte que o bom humor na crônica proporciona, conheci Vilobaldo como dos melhores profissionais do cabelo de Aracaju (não tenho mais notícias se ainda está na ativa). No mais, foi inveja da concorrência.
Ilustrações: Articulistas em rede. Fotos: Redes Sociais / Reprodução.
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