Mino Carta, Veríssimo e Jaguar: a resistência ao banal
- Luiz Eduardo Oliva
- há 10 minutos
- 2 min de leitura

Não há lugar comum mais óbvio que aquele que diz “uma perda irreparável” quando morre uma pessoa – principalmente as famosas. Óbvio porque todas as mortes são perdas irreparáveis. Mas o sentido por trás da máxima é alertar para as credenciais do morto que, pela contribuição ao seu tempo, deixa imensa lacuna.
Nessa última quinzena, o país viu perder três grandes nomes ligados à cultura jornalística: o cartunista Jaguar, o refinado cronista Luís Fernando Veríssimo e o jornalista Mino Carta. Contemporâneos de época (nonagenários, por assim dizer – Veríssimo aos 88 anos) tinham em comum a luta permanente pela democracia, a coragem de enfrentar establishment, e o talento de nos fazer advertir e deleitarmos com as suas criações.
Veríssimo foi considerado talvez o melhor do seu tempo no gênero crônica. Unia o estilo elegante da escrita com a inventividade de personagens ricos, o humor ácido sem ser agressivo. Jaguar foi senão o maior cartunista brasileiro, certamente o mais longevo. Seu traço rápido, diálogos curtos e mordaz e o estilo incomparável. Criou o “Pasquim” que fazendo escola, foi o pai dos jornais alternativos e pautou com humor e a boa crítica, a cultura brasileira do final dos anos 60 até os anos 80.
Mino Carta foi o mais profícuo editor brasileiro (embora nascido em Gênova, na Itália), responsável pela criação de três dentre as principais revistas no período já citado: Veja, IstoÉ e CartaCapital. Os textos de Mino eram permanente advertência, seja no combate ao arbítrio, seja no alertar sobre os perigos que rodeiam a democracia, como esses que vivemos atualmente.
Embora em tempos conturbados, a geração dos três legou ao Brasil um punhado rico de homens e mulheres que através do talento e da divina vigilância contra a estupidez, nos faz lembrar Belchior quando disse: “nossos ídolos ainda são os mesmos…”. Mas, porque é cíclico, estão partindo, embora deixando-nos a herança de um legado que diz o quanto lutar – com o traço, a música e as palavras – é necessário.
A mediocridade teima em triunfar. Junto com ela o dissimular criminoso de quem quer viver compactuando com o arbítrio. O teatrólogo e poeta alemão Bertold Brecht cunhou uma frase lapidar: “Aquele que não conhece a verdade é estúpido e só. Mas aquele que a conhece e a renega é criminoso”. Vive-se tempos em que em nome da verdade se propaga as maiores dissimulações.
Nomes como os de Jaguar, Luiz Fernando Veríssimo e Mino Carta já estão a fazer imensa falta e seriam, no simbolismo da frase que inicia esse artigo, “perdas irreparáveis” não fosse o imenso legado que nos deixam. Jaguar, Veríssimo e Mino, três guardiões da resistência ao banal, três luminares que lançaram luzes em tempos tão sombrios.
Fotos: Redes Sociais / Reprodução. Ilustração: Articulistas em rede.
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