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Divagações pretensiosamente filosóficas sobre o tempo

Atualizado: 21 de mai.

Sobre o tempo, filosofia

Um dos grandes mistérios da humanidade, talvez jamais desvendado, é sobre o tempo, seu simbolismo, seu significado e sua ação sobre as coisas e a evolução do universo e da vida. A vida, a rigor, é uma constante do passado, já que não há presente no tempo que passa segundo a segundo, senão no segundo, construindo no imediato o próprio passado.


Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático, criou a alegoria da impossibilidade de se banhar a segunda vez no mesmo rio, porque, sendo o rio a água corrente, representava o próprio tempo que passa segundo a segundo donde nem as águas seriam as mesmas, tampouco a própria pessoa em permanente mutação seria a mesma. Veja o leitor que no início deste texto, quando falo desse tempo inusitado que vivemos, o tempo já é coisa do passado entre o início da leitura até aqui porque já se passaram alguns segundos.


A rigor, o tempo só para no mármore que se esculpe, no instantâneo que se registra na fotografia, enfim, na obra do artista e na própria natureza. Ainda assim o registro é difuso, meramente interpretativo, porque as condições em que as coisas acontecem, por estarem relacionadas ao meio e às circunstâncias, não são necessariamente o que o registro ou a história conta.


É, por exemplo, como tentar entender a obra de Dante Alighieri que, escrita há mais de sete séculos, aos seus pósteros não se apresenta com a compreensão daqueles tempos, por ter sido concebida em ambiência e cultura diferentes. Cabe somente a interpretação que busca aproximar daquela realidade.


Muitas vezes queremos interpretar o passado com os valores do presente, sem compreender que valores do presente são o resultado da superação ou não de experiências nefastas do passado. Pior que condenar o passado é retroceder em valores espúrios ao passado. O mundo revive os tempos sombrios de que falava a filósofa Hannah Arendt.


A vida é memória e sem memória não há vida. Poder-se-ia dizer que animais e a natureza não possuem a memória na forma de inteligência que os humanos supõem possuir, com a visão homocêntrica. Mas há mais, e muito mais de refinado, na memória da natureza, dos organismos vivos que a nossa vã inteligência possa imaginar. Por isso, como compreender o existir do tempo presente se o presente é apenas o instantâneo ou a fração de segundos em que se pulsa o acontecimento em seu estado pleno, estanque, sem as suas consequências que serão percebidas no futuro, quando os acontecimentos já pertencem no imediato ao passado e o futuro for somente o presente que se instantânea?


Parece confuso, mas quem será capaz de, por exemplo, prever as consequências de tempos tão terríveis como esses que estamos vivendo em que a humanidade se vê diante de dilemas do seu destino por conta de ações de um só homem que por estar no poder do país de maior economia do planeta e aplaudido por seu séquito de seguidores que se considera capaz de tomar decisões para definir o destino das relações comerciais de todo o planeta?


Conta a história que o imperador Nero incendiou Roma se regozijando tocando a lira. Seu objetivo seria o de reconstruir a cidade ao seu modo e para isso aumentou os impostos das províncias imperiais. Qualquer semelhança com quem estabelece ao seu bel prazer tarifas sobre produtos de outros países é mera coincidência. Será? Diz a história que Nero, egocêntrico, acuado, suicidou-se lamentando o grande artista que morria, ele próprio. À sua morte sucedeu-se uma série de guerras civis.


O tempo, esse implacável compositor de destinos, como cantou Caetano Veloso, continuará a ser um grande e insondável mistério. Bola de cristal é artefato do embuste para prever o futuro.


Já se vão alguns minutos dessa leitura. Muito se fez no mundo nesse momento. Nem o leitor é o mesmo (certamente acrescido de algumas indagações deste artigo), tampouco o articulista, e muito mais o mundo. O tempo continua a grande incógnita, conjecturas de pretensas divagações filosóficas insondáveis, mas o enigma que o reveste continua tão insondável como prever o que o destino reserva à humanidade.


Ilustração criada com colaboração de IA.

Luiz Eduardo Oliva --- advogado, membro da ASLG, do IHGS e da ARLAC.

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