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Nos cafundós da Bahia


Sexta-feira passada, dia 28 de março, iniciei uma viagem para uma Bahia distante dos chamegos litorâneos. Uma Bahia abundante em Euclides da Cunha e escassa em Jorge Amado.


Não foi a primeira vez. Fiz essa incursão por três anos consecutivos: 2010, 11 e 12. Após um longo intervalo, me lancei de novo nas estradas rumo ao umbigo do sertão baiano.


A iniciativa é do amigo Osvaldo Alves de Almeida, companheiro de diversas jornadas, servidor aposentado da Polícia Rodoviária Federal - PRF. Trata-se de uma herança afetiva, cumprida religiosamente, ano a ano, desde meados do século passado.


A finalidade é chegar até a região na qual o pai do inspetor Osvaldo vendia o açúcar produzido em usinas sergipanas. As viagens originais eram feitas de caminhão. Na volta, vinham na carroceria o umbu e os bodes, criaturas que simbolizam a resistência sertaneja.


As primeiras idas do nosso protagonista até Uauá e seus arredores, foram acompanhando o pai, na boleia do caminhão. Além do contato vivo com a atmosfera do sertão, também ficaram tatuados na memória os laços de bem-querer atados pelo caminho.


De lá para cá, as viagens não pararam; apenas foram adaptadas de acordo com as circunstâncias. Anualmente, entre fevereiro e março, o inspetor Osvaldo refaz o trajeto. Agora, em 2025, do alto dos seus 83 anos de idade, levou nove amigos aos cafundós da Bahia.


Cópia do artigo "Jôrro", escrito por Rachel de Queiroz e publicado na revista O Cruzeiro, em 1962. Essa cópia, emoldurada, está exposta em um hotel, em Caldas do Jorro ________________________________
Cópia do artigo "Jôrro", escrito por Rachel de Queiroz e publicado na revista O Cruzeiro, em 1962. Essa cópia, emoldurada, está exposta em um hotel, em Caldas do Jorro ________________________________

Um sentido turístico foi acrescentado. Por isso, passamos duas noites e um dia em Caldas do Jorro. A saída de Sergipe é feita por Simão Dias. Já na Bahia, há uma primeira parada em Belém de Fátima para comprar codornas, e em seguida o almoço, em Ribeira do Pombal.


No município de Tucano, desfrutamos os banhos térmicos e medicinais do Jorro, à noite e nas primeiras horas da manhã. É impressionante ver as filas que não se acabam, para lavar o corpo na água que jorra do fundo da terra e chega à superfície com 48 graus Celsius.


Ainda em Tucano, visitamos o comércio de artigos de couro no povoado Tracupá. De lá, uma esticada até o Jorrinho, uma baixada na beira da BR-116, um outro esguicho com temperatura mais amena: 38 graus Celsius.


No Jorrinho, nos muitos bares e restaurantes apinhados ao redor das bicas que despejam a água vinda do subsolo, a atração dos cardápios é a carne de bode assada na brasa, rigorosamente servida com o acompanhamento de farofa d'água.


Daí pra frente é o mergulho na caatinga profunda: Euclides da Cunha, trevo de Bendengó, Uauá, seus arredores e o vulto de Antônio Conselheiro.


A experiência de uma conversa debaixo da moita alta e fechada do umbuzeiro é lembrança que não sai da memória de quem vai, seja veterano ou noviço.


Esta crônica de viagem foi escrita na estrada, na trepidação leve dos pneus sobre o asfalto da BR-235. Jeremoabo já ficou para trás, atravessamos a divisa, a cidade de Carira se avizinha. Depois disso, uma parada para o almoço em Itabaiana e a chegada de volta a Aracaju.


Perdoem as mensagens ainda não respondidas, enviadas entre 28 e 31 de março. Durante esses quatro dias foi pouca a ocasião para o celular.


Na edição 2025 da Viagem ao Caldeirão da Serra, participaram: Osvaldo Alves de Almeida (organizador), Airton Leite Santos, Antônio Alves de Almeida, Antonio Passos de Souza, Edgar Patrocínio dos Santos Júnior, Fábio de Jesus Machado, Marcelo Feitosa Silva, Paulo César Santos, Renato Barros Telles e Wilson de Jesus Machado. Durante a estadia em Caldas do Jorro, o grupo recebeu a companhia do casal Rodrigo e Daniele (filho e nora do inspetor Osvaldo).


Fotos: Antonio Passos / Articulistas em rede.

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