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Lição de finados

Lição de finados, Antonio Passos de Souza, Crônica

Cemitério Colina da Saudade, Dia de Todos os Santos conforme a tradição católica e véspera do Dia de Finados, este fixado em 02 de novembro.


Muita gente adianta a visita aos túmulos dos entes queridos para o dia primeiro do mês. Assim, fazem a troca antecipada das flores oferecidas aos defuntos e precedem à multidão que acorrerá ao local no dia seguinte.


O sol poente já se aproximava da linha do horizonte e lá estávamos nós – eu, minha irmã e minha mãe – na nossa tradicional meditação ao lado da última morada terrena do nosso pai e esposo.


Poucas covas à nossa esquerda, uma mulher jovem acompanhada por duas crianças, uma menina e um menino, aproximaram-se de um jazigo.


Pelos tamanhos, avalio que a menina deveria ter uns oito anos de idade, e o menino, uns cinco. A mulher parou em posição frontal à pedra tumular e as crianças com ela, uma de cada lado.


Em tom leve e sem rodeios, a mulher começou a falar. Às vezes, dirigia-se ao sepultado; noutras, aos rebentos:


– É aqui onde está o avô de vocês. Vejam o nome dele escrito ali na pedra.

– Pai, esses são meus filhos, seus netos. Lamento muito que o senhor não os tenha conhecido em vida. Sei que o senhor seria um excelente avô.

– Lamento também que eles não tenham convivido com o senhor. Sei que, onde quer que o senhor esteja, está vendo a gente agora e vendo o quanto vocês se parecem.

– Minha filha é muito boa em matemática, assim como o senhor era. Na escola, ela sempre tira boas notas e isso sempre me faz lembrar do senhor.

– E ele, pai! É a sua cara, o seu jeito de se movimentar, os seus gestos… Todo mundo diz isso.

– Eu queria muito trazer vocês dois aqui para fazer essa apresentação. Vocês não conheceram esse avô, mas eu quero dizer a vocês muitas coisas sobre ele, para que, desse modo, vocês também conheçam um pouco o meu pai.


As crianças fizeram algumas breves perguntas, a mãe respondeu e disse:


– Agora, vamos rezar um Pai Nosso.


Os três rezaram juntos. Em seguida, a mãe sugeriu visitar o túmulo de uma tia. Saíram caminhando pelo gramado que se estendia entre as longas fileiras de lápides, muitas delas já ornamentadas com arranjos de flores novinhos em folha.


Em alguns momentos, as crianças se adiantavam à mãe em breves correrias e brincadeiras, como em um delicado balé, simbolizando o ciclo e a renovação da vida.


Tudo banhado pela cintilância dos derradeiros raios de sol.


Foto: Galeria (colinadasaudade.com.br) / Reprodução.

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2 comentários


Carmen Lúcia
07 de nov.

Você conseguiu reproduzir na íntegra o episódio...foi uma cena louvável!

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Marrom bombom
07 de nov.

Muito bonito , o teste.

Gostei de mais das

observações não esqueceu de nenhum detalhe.

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