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Flipelô: o livro em festa

Flipelô 2025 O Pagador de Promessa
Cena do filme O Pagador de Promessa (1962)

Quando se fala em Castro Alves, o maior dos poetas baianos – e um dos maiores da língua portuguesa – é de se imaginar um autor recheado de livros. No entanto, vivo, publicou apenas um: “Espumas Flutuantes” cujo poema de início (embora a dedicatória seja em versos) tem o livro como inspiração: “O Livro e a América”. Nele estão contidos os célebres versos "Oh! Bendito o que semeia / Livros à mão cheia / E manda o povo pensar!". Isso dito em 1870, não imaginava o bardo baiano a dimensão que tomaria o livro e a existência mais lúdica de semear livros: as bienais, as festas e as feiras literárias.


No Brasil as feiras de livro têm início em São Paulo em 1951 quando a Câmara Brasileira do Livro realiza a primeira Feira Popular do Livro, na praça da República seguindo uma tradição europeia das feiras de livros encontradas na França, na Alemanha e na Itália. Essa iniciativa vai desaguar quase duas décadas após na Bienal do Livro. Porto Alegre também registra iniciativa semelhante. Sua primeira edição ocorreu em 1955, foi criada com a intenção de tirar o estigma de que as livrarias eram elitistas e torná-las mais acessíveis ao público.


Desde o início deste século as feiras passaram a ter um sentido mais amplo para além de divulgar livros, editoras, escritores. Viraram verdadeiras festas, com shows, homenagens a cada edição a um autor ou autora, grandes mesas de debates, temas variados. No ano 2003 é lançada a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) que tomou a dimensão da maior festa internacional do livro no Brasil.


A Festa Literária Internacional do Pelourinho, a Flipelô, iniciada em 2017, pela proximidade com Aracaju tem sido recorrente onde, menos na pandemia, tenho participado de quase todas ao lado sempre entusiasmado de Mônica, inexorável companheira que cuida das mesas e festa da música que vamos assistir. O Pelourinho já é uma festa. Estar hospedado em Santo Antônio Além do Carmo já se faz impagável, pelo caminhar das ruas, pela baianidade, pelas ruas estreitas, pelas igrejas e todas as tribos, bichanos e cães. Uma festa!


Esse ano a Flipelô tem Dias Gomes como tema. Estar hospedado em Santo Antônio Além do Carmo é a certeza de passar a cada ida ao Pelourinho pela célebre escadaria da Igreja do Santíssimo Sacramento do Passo onde foi filmado “O Pagador de Promessa” (1962) baseada na obra de Dias Gomes e vencedor da primeira (e única) Palma de Ouro do Festival de Cinema de Canes conquistada por um filme brasileiro.

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Esse ano a Flipelô teve, pela primeira vez um autor sergipano em uma das mesas (bastante concorrida, por sinal) o médico e escritor Marcelo Ribeiro: “Calazans e Conselheiro: História, Política e Religiosidade no Sertão Brasileiro” enfocando a obra daquele que foi o maior especialista em Canudos, o intelectual sergipano, tio de Marcelo, José Calazans Brandão da Silva.


As feiras e festas literárias se de um lado demonstram a resistência do livro, de outro enchem de esperanças em um mundo cada vez mais cibernético e superficial. Festas como a Flipelô são formas de popularizar cada vez mais o livro, democratizar o acesso à leitura e promover a produção literária. Mergulhar em livro é a certeza do encontro libertário com a sabedoria. Castro Alves, citado no início deste artigo, completa os celebres versos dizendo “O livro, caindo n'alma, é germe – que faz a palma, é chuva – que faz o mar! ” As feiras e festas literárias são como chuva em tempo de seca: germinam a sabedoria para reduzir a ignorância em um mundo onde a mediocridade ainda teima em querer dar o tom na vida e na política.


Foto e ilustração: Redes Sociais / Reprodução. Flipelô 2025 / Divulgação.

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1 comentário


Bruna
12 de ago.

Muito legal!

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