Esse livro foi praticamente proscrito em Sergipe. Por isso, não se sabe quantos exemplares ainda existem e onde estão guardados. O motivo da interdição sergipana são as severas denúncias e críticas feitas pelo autor, direcionadas a diversas figuras envolvidas na política partidária e na gestão pública local. São contados vários episódios, envolvendo abuso de poder e violência, em relatos diferenciados das versões oficiais que prevaleceram. O repúdio à publicação teve como efeito a privação do acesso público aos muitos casos curiosos descritos. Trata-se de um relato com autoria identificada. O autor, José Lopes Bragança, nascido em Minas Gerais, filho de militar e incorporado ao Exército Brasileiro desde os dezesseis anos de idade, chegou em Aracaju com a patente de Coronel, em outubro de 1959, para comandar o 28º Batalhão de Caçadores. Após o encerramento da missão militar exercida em terras sergipanas, José Lopes Bragança foi removido para outras unidades da federação. Publicou então o livro “Sergipe Por Um Óculo”, oferecendo relatos bastante peculiares sobre diversos episódios envolvendo os temas política e sociedade. Dada a independência interpretativa assumida pelo autor, o livro despertou a ira de figuras ligadas ao poderio político e econômico em Sergipe. Destacam-se relatos de antipatias e até embates com os governadores Leandro Maciel (1955-1959) e Gilton Garcia (1959-1962), além de alguns prefeitos. Os textos também revelam aspectos característicos do autor, entre os quais uma atitude anticomunista incondicional e o uso farto de ironia em correspondências transcritas, enviadas para autoridades civis. Trata-se de um exemplar usado, com capas e páginas amareladas. Manchas de oxidação nas capas e mais acentuadamente nas bordas. Lombada com fissuras. O estado geral do livro pode ser conferido nas fotografias disponibilizadas. É o típico exemplar de colecionador, requer manuseio cuidadoso. Carneiro & Cia. Editôres, 1969 (data provável da publicação), 129 p.
Trechos do livro:
“Do aeroporto situado quase à beira-mar se vai à cidade por uma bela estrada asfaltada construída com verbas federais do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, porém proclamada como obra do Governador Leandro Maynard Maciel, que a inaugurou” (p. 7).
“Explica-se que o Coronel Ruy Santiago, comandante da Guarnição Federal, tinha um sargento de confiança que levava votos preparados para substituir os verdadeiros que se encontravam nas urnas” (p. 16).
“Todos contam que o Capitão Renato de Freitas Brandão extorquia dinheiro dos presos quando era responsável pela direção da casa de correção” (p. 22).
“Em tôda parte há homens excepcionais. Nós temos um exemplo frisante no caso do Cel. Batalha, que morreu de desgôsto por não ter promovido com injustiça, um soldado sob pressão do chefe político de Itabaiana, Euclides Paes Mendonça, atual prefeito municipal e o maior cabo eleitoral do Estado” (p. 23).
“Tornou-se visível que o Sr. Heribaldo encaminhava as investigações para provar que os mandantes do crime eram o Cel. Afonso e Dona Milena e para isso se tornava necessário provar-se que eram amantes” (p. 37).
“Para os moradores de Itabaiana há entretanto um meio mais forte de encabrestá-los. Suas propriedades são depredadas, invadidas e tomadas quando não querem se incorporar à corrente política do chefe local” (p. 40).
“Os políticos que vinham trabalhando pela democratização da cidade e que já haviam realizado grandes serviços foram suplantados e já há os que não têm coragem de ir a Propriá, como se lá estivesse o Lampião que muitas vêzes a visitara noutros tempos” (p. 44).
“A Rádio Jornal de Sergipe, poucos dias depois, foi atacada a petardos que estilhaçaram várias de suas vidraças e o programa Risolândia teve de ser cancelado porque o seu organizador foi sequestrado e espancado” (p. 49).
“Um dos prejudicados disse um dia, num apêlo, ao norte-americano, se êle se conformaria, lá nos Estados Unidos se visse a sua própria propriedade tratada da maneira como estava praticando aqui” (p. 57).
“Em Sergipe o fato é muito notável, chegando a culminar em lutas tremendas. O prestígio político é medido pelas facilidades que o cidadão tem junto ao fisco” (p. 85).
“A classe universitária foi tomada de surprêsa pela renúncia do Sr. Jânio Quadros, mas compreende que mais uma vez as fôrças da reação ao progresso e ao desenvolvimento nacional conseguiram se impor aos desejos de transformação do País” - declaração atribuída à União Estadual dos Estudantes de Sergipe / UEES - (p. 89).
“Foi recebida ordem de serem censuradas as emissoras das estações de rádio. (...) De acôrdo com as ordens, ficavam proibidas as retransmissões de notícias ou boatos colhidos nas estações radioemissoras gaúchas” (p. 92).
“Passam-se prazos intermináveis, morrem os autores, as testemunhas, os interessados e continuam os juízes, os desembargadores, os advogados, os promotores, os meirinhos, os serventuários todos atentos aos estudos dos processos, às discussões sôbre os artigos e parágrafos das leis” (p. 103).
“Para a história do 28 Batalhão de Caçadores entretanto é necessário que fique claro que não prendi o requerente nem o ameacei. Não precisaria ameaçá-lo porque êle é um poltrão” – esse parágrafo faz referência ao então prefeito de Aracaju, José Conrado de Araújo (p. 105).
“No Asilo Rio Branco há um fenômeno interessante no ponto de vista religioso. A instituição foi criada e é dirigida pela Maçonaria, entretanto o Arcebispo e a Ação Católica colaboram com tôda boa vontade” (p. 108).
“Êsse João Telles era comunista e hoje é um doa mais ativos em Sergipe. Sua residência, numa chácara no arrabalde, é um dos pontos de reunião dos vermelhos. No dia dois de janeiro de cada ano é ali que festejam o natalício de Prestes” (p. 112).
“Entre as pessoas acima, está, por exemplo, o Dr. Antonio Garcia, que é bom médico, Secretário de Saúde, produz lindos versos, compõe boas músicas, canta com graça e discursa com eloqüência” (p. 124).
“– Deus –, o Infinito – em vão também soluça
E sôbre a Alma das Coisas se debruça
Para chorar miríades de estrêlas…” – transcrição de trecho do soneto “O Chôro de Deus”, atribuído ao poeta Clodoaldo de Alencar (p. 124).
“Havia antes um serviço de bondes, porém o Governador Leandro Maciel suprimiu-o e fêz presente dos trilhos aos seus correligionários. Restaram os buracos nas ruas” (p. 128).
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